Um ano depois das enormes cheias que devastaram a Mata Sul de Pernambuco com efeitos mais perversos sobre os municípios de Palmares, Água Preta e Barreiros, já se pode constatar a presença efetiva do Estado, tanto quanto se vê também que ainda há muita coisa para ser feita. Há poucos dias, o governador Eduardo Campos entregou à população as primeiras 139 casas de um projeto concebido para construir 12 mil em todos os municípios atingidos. O Hospital de Palmares, totalmente destruído pela enchente, foi reconstruído, primeira etapa, em apenas 8 meses, ao lado de pontes e passagens molhadas, enquanto já foram concluídos estudos e projetos para a construção de quatro barragens regulatórias e de contenção que serão a solução mais apropriada para as cheias do Rio Una.
A essa atenção do governo do Estado se deve acrescentar a presença do governo federal com a liberação de recursos e o socorro do empréstimo a grandes, pequenas e microempresas, como nunca se viu no espaço urbano da região canavieira. Pelos efeitos já visíveis dessas ações articuladas, gerou-se nas áreas atingidas uma expectativa compreensivelmente otimista, mas há segmentos que fazem da dúvida o método e esperam que o processo de reconstrução não sofra contingenciamento e que os projetos já concluídos se transformem, efetivamente, nas obras programadas. É natural que assim seja, diante das anunciadas medidas de contenção de gastos do governo federal, para impedir a volta do fantasma da inflação.
O que não parecem estar em foco, ainda, são medidas estruturadoras capazes de mudar o perfil econômico dessa região dominada pela monocultura canavieira e detentora de alguns dos piores indicadores humanos de Pernambuco. O que está sendo feito até agora naturalmente deve receber o reconhecimento de todos, pois é raro se verificar, por exemplo, um trabalho de recuperação nos moldes com que foram restauradas estradas, pontes e equipamentos urbanos essenciais, como um grande hospital. Entretanto, o medo com que as populações receberam chuvas mais fortes menos de um ano depois das enchentes devastadoras de 2010, mostrou que a grande obra vai muito além do reparo, que é preciso repensar a ocupação da Mata Sul, acrescentando-lhe transformações sociais profundas.
Além dos recursos que chegaram e continuam chegando para as obras de reparo, da atenção que está sendo dada à ocupação de áreas de risco, o propósito de controlar o rio Una, o apoio financeiro com empréstimos generosos em prazo de carência e pagamento, além disso tudo, parece-nos que deveria chegar, também, alguma coisa nos moldes das mudanças que transformaram parte do Agreste de Pernambuco num importante polo econômico, gerando emprego e renda para a população local e até importando mão de obra. O problema consiste tão somente em identificar uma nova vocação para cada um dos principais núcleos da região levando-lhes o apoio financeiro, orientação e qualificação para empreendimentos que superem o império da economia canavieira, extremamente concentradora.
Fonte: JC
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